quarta-feira, 27 de março de 2013

Educação: passado, presente e futuro


Por Nevaldo Leocádia Bastos Júnior

Retomar os rumos escolares que me trouxeram até aqui é sempre uma oportunidade para (re)aprender. Articular, então, com os processos históricos apresentados é um verdadeiro desafio. Desafio não no sentido de dificuldade, mas de realinhar algumas "verdades" que me eram tidas como absolutas. O ato de "ruptura intelectual", proporcionado pela academia, causou impactos que não permitem voltar ao meu estado anterior. Antes de me aprofundar nesse aspecto específico, vou comentar sobre os caminhos que a vida me proporcionou.

Minhas primeiras lembranças de vida escolar retomam do Jardim de Infância Girassol, escola de caráter privado. À época, uma escola de referência no ensino das séries iniciais, que posteriormente se tornaria o Colégio Sodré Miranda, estendendo seu campo de atuação ao Ensino Médio e técnico. Cursei os ditos "Jardins" I, II e III, além de parte do C.A. (Classe de Alfabetização), que na atual definição jurídica do nosso sistema educacional corresponde ao 1º Ano do Ensino Fundamental.

Era o ano de 1998. Minha permanência no dito colégio acabaria por ai. Devido à progressão de séries, o preço das mensalidades igualmente iria seguindo um rumo crescente. Somou-se ainda a um dos maiores traumas, se não o maior, que enfrentei na minha vida: o câncer em meu avô materno. Conciliar os cada vez mais elevados custos educacionais, com os caros remédios foi um fardo maior que meus pais puderam comportar. O que me fez seguir rumo a uma instituição pública.

No segundo semestre daquele ano, fui transferido à Escola Municipal Alexina Lowndes. Unidade Escolar que minha mãe lecionou durante dez anos, além de fazer parte da administração da escola pelos próximos cinco anos. Vinda das políticas públicas adotadas pelo governo municipal do PT na década de 1990, a escola realmente era excelente, apesar de suas limitações.

"Além"
De alguma forma, eu estava "além" dos meus colegas. Longe de uma genialidade latente, o "segredo do sucesso" estava na educação que tive na escola particular. Para efeitos demonstrativos, enquanto meus colegas aprendiam as primeiras letras, eu já lia textos inteiros. Apenas anos mais tarde, cursando a Faculdade, compreenderia esse valor exacerbado, além do investimento propriamente dito, dado às instituições privadas de ensino em detrimento às instituições públicas. Ainda que não se possa generalizar tal dicotomia.

Prossegui na E.M.A.L. pelos próximos seis anos letivos, vindo a me transferir em 2005. Nos dois últimos anos, afirmo sem pesar, a semente da docência foi plantada em mim. Não vou mentir. Não era meu sonho ser professor em si. Na verdade, o desejo nasceu mais pela admiração por certo docente. Na figura do professor Jorge B. Fernandes, professor de História (e recentemente doutorado pela UFF), tive meu primeiro contato com a área de Ciências Humanas. E como adorei! As aulas acerca das civilizações antigas me pegaram em cheio, exatamente num momento em que entrava em litígio com a área de Exatas, justamente pela violência simbólica praticada por outro professor.

Dali em diante eu adotaria História como minha matéria favorita. Algo comum na vida de qualquer estudante, a escolha de algo que se identifique. E não apenas isso, mas disciplinas por "aproximação" também dedicava minha maior atenção. Citando, por exemplo, Língua Portuguesa e Geografia. Em contrapartida, a partir desse momento perdi completamente o interesse pelos números, chegando até mesmo a ser displicente.

Minha trajetória educacional continuou no Colégio Estadual Honório Lima. O melhor colégio estadual instalado no município ou, como dito constantemente, o "menos pior". Adentrei no 8º Ano, antiga 7ª Série. E foi um choque. Se na E.M.A.L. havia um corpo docente minimamente engajado, no C.E.H.L, em sua maioria, eram professores desmotivados. Em muitas matérias haviam professores desinteressados, que nem ao menos nossos nomes sabiam, mas também existiam os esforçados para cumprir sua função. Como não é objetivo aqui fazer juízo de valor, vou dar prosseguimento ao texto.

Porto Seguro
Com o saudoso professor Wanderley Silva encontrei um porto seguro naquele turbilhão que me encontrava. Somavam-se os efeitos da puberdade a problemas econômicos na família, meu foco era completamente perdido. Apesar de tudo, o que restava para mim era estudar. Estudar ou desviar meu rumo para os caminhos ilícitos da vida.

Talvez o rigor imposto por ele tenha me ajudado a conseguir maior concentração. Não um rigor autoritário, mas construído em meio às atitudes observadas. Até hoje, vendo meus boletins, percebo que foi o único professor que possuo número mínimo de faltas. Em um ano em particular, não faltei a nenhuma das aulas. E o maior mérito, me fez estudar Ciências Exatas. Lecionando Química nos três anos do Ensino Médio e assumindo Física nos dois últimos anos, realmente me fez aprender algo. Conceitos esses que utilizei para "me virar" em Matemática, já que a jovem professora parecia ter outras preocupações.

Fazendo dupla com o professor Wanderley, havia ainda a professora Ana Carla, que lecionou Geografia, também nos três anos do Ensino Médio. Hoje vejo que ela tentava incutir um pensamento progressista em nós, alunos, com as matérias aplicadas. Buscava criar uma consciência crítica. E admito que, dentro dos limites que possuía, foi competente. Desde aquela época eu tinha conhecimento, mesmo que raso, sobre o cenário político internacional. Por sinal, foi tal docente que me incentivou a ingressar no curso de Pedagogia, oferecido pela UFF aqui em Angra dos Reis. E esse é o próximo passo da minha caminhada.

À época, passando no vestibular, me tornei oficialmente aluno da Universidade Federal Fluminense. Talvez por efeito da juventude, por ter entrado de forma precoce, não dei o devido valor nesse primeiro momento. Fiz o vestibular pensando "vou ver no que dá" e a aprovação foi uma enorme surpresa. Surpresa para mim, pelo menos, pois, sinceramente, não acreditava que passaria na temida "seleção uffiana". As pessoas em meu entorno me exaltaram, disseram que foi "um feito extraordinário para quem vem de escola pública". Essas palavras só me levariam à reflexão anos mais tarde, já como universitário e inteirado dos processos educacionais do Brasil.

Como dito, a infantilidade, pois esse é o termo, somado ao deslumbre, fizeram não me engajar como deveria naquele momento. O que seria reforçado meses à frente pelo outro ponto de impacto em minha vida. Minha avó materna sofreria um Acidente Vascular Encefálico. Longe da inocência infantil que me protegeu antes, agora tudo estava muito claro. Eu vi minha estrutura familiar desmoronar de uma vez. E eu não passaria "em branco".

Naquela altura eu já estava completamente alheio. Cursava pensando apenas em trancar ao fim do período. O esforço, de fato, vinha da parte dos docentes. Tentando me manter ainda na Universidade, foi me dado prazos e concedidos alguns privilégios. Por que não? A partir do ponto que me colocam em posição de vantagem em comparação aos meus colegas, a relação se tornou injusta. "Perdão" de faltas, trabalhos complementares e tantas outras coisas.

Criou uma relação dicotômica na minha cabeça. Destaco aqueles que tentaram “recuperar” a mim como aluno naquele momento, como a professora Silmara Marton, de Filosofia da Educação; Luciana Requião, em Economia Política e Educação; e Marcos Marques, em Sociologia da Educação. Novamente acreditei no papel do professor, vi de fato uma intervenção direta. Porém, fazendo contraponto, um professor do Instituto (de Educação de Angra dos Reis), que nem ao menos me dava aula naquele momento, praticamente me "baniu" da Academia com suas palavras. Talvez não com esse objetivo, assim tiveram efeito. Ainda tentei iniciar o 2º Semestre, mas acabei por trancar minha matrícula devido ao falecimento de minha avó.

Ano difícil
Creio ter sido o ano mais difícil da minha; agora, "vida adulta". Aproveitei o "ano sabático" para refletir, trabalhar, repensar de fato no que queria. Foi difícil. Mesmo não dizendo, meu abandono à Faculdade foi uma decepção para meu pai. Não era algo dito em palavras, mas em expressões e gestos. Ele dizia apoiar minha decisão, mas estava destruído por dentro. E isso me afetava. Também pudera. Sempre foi o chamado "peão", assumindo qualquer emprego para prover o sustento da casa. Ver o filho em uma Universidade Pública, e de prestígio, era como sentir que seu dever estava cumprido. Dentre os filhos, dos que estão em idade para ingressar no Ensino Superior, fui o primeiro. No geral, em toda a família, contando primos e ademais, fui o segundo.

Mais preocupado em dar uma resposta ao sofrimento do meu pai, resolvi dar uma segunda chance à Universidade. Hoje percebo que foi uma segunda chance para mim mesmo. E assim o fiz. Regressando ao curso, exato um ano depois, senti um enorme sentimento de insegurança. Na verdade, medo. Muitas vezes pensei "o que estou fazendo aqui?". Ver colegas que iniciaram comigo bem mais à frente era desestimulante. A mudança de grade curricular também foi um entrave, pois bagunçou completamente meu plano de estudos, me forçando "peregrinar" por diversos períodos.

E mais uma vez um professor me estendeu a mão. Talvez tenha sido ai que me fixei verdadeiramente ao curso, criando vontade de continuar. A disciplina? Epistemologia e História das Ciências, naquele momento ministrado pelo professor Rodrigo Torquato. Além da afinidade imediata, a rigidez que ele mantinha em suas aulas me prendeu, repetindo o "efeito Wanderley" anos depois.

Penso que a leitura que mais me impactou nessa disciplina foi "A Formação do Espírito Científico", de Gaston Bachelard. Eu me senti desafiado, quase como se o autor me esnobasse, o que me fazia ler mais e mais. Outra leitura que me inseriu de vez no contexto acadêmico foi “Um Discurso sobre as Ciências”, de Boaventura Souza Santos; também apresentado na disciplina citada.

Utilizava os conhecimentos que absorvia em uma disciplina de 3º Período e empregava nas disciplinas de 1º e 2º Período. Em uma verdadeira relação dialética, eu fui construindo uma concepção à parte de aprendizado, criando meu “próprio ritmo”. Por me engajar em Epistemologia, sentia as outras matérias ficarem "fáceis", o que me ajudou a superar aquele medo que se deu em meu retorno. Aos poucos eu ia me apropriando da lógica acadêmica, coisa que passou longe da minha percepção na minha primeira passagem.

Nota 10
E é chegado o terceiro impacto que sofri. Dessa vez não era algo que desestruturasse minha família, mas igualmente desestabilizador. Era final de semestre, momento de pegar as notas e saber se iria prosseguir ou ficar retido em alguma disciplina. O que para meus colegas era algo extremamente assustador, para mim era momento de ansiedade. Queria realmente saber como havia me saído. E consegui notas excelentes! Perdão se a modéstia não está presente, mas para alguém que estava "enferrujado" foi um cenário excelente.

O que me abalou mesmo foi a nota em Epistemologia. Não uma nota baixa, mas o extremo oposto. Consegui tirar um "10", o sonho de qualquer estudante. Mas para mim era mais, foi simbólico. Mais do que atingir os objetivos propostos em excelência, os comentários do professor me pegaram de assalto, ainda mais pela minha saída e retornos conturbados. Eram os tipos de palavras de exaltação ao meu potencial. Algo que jamais pensei que iria ouvir. Ao chegar em casa me dirigi ao meu quarto e, sem saber exatamente a razão, cai em lágrimas. Penso que algo que me falta ainda hoje é dizer um simples "obrigado" ao professor Rodrigo. Creio que ele não sabe a importância que tem em minha vida acadêmica.

Daí em diante meu foco era outro. Apropriei-me dos preceitos aprendidos com esse "10", como por exemplo, buscar leituras mais densas. Mesmo que não entendesse em um primeiro momento, mas pelo menos para "exercitar o cérebro". Passei também a exercitar mais minha escrita, tentando sintetizar as ideias que lia. Aproveitei o período de greve para por em prática esse método de estudo. Com o passar o tempo minha leitura fluiu melhor, minha interpretação melhorou significantemente e me senti inserido plenamente no contexto acadêmico.

Pelo meu crescente poder de interpretação passei a correlacionar o que era lido em sala com aspectos da minha vida. Como para qualquer estudante de um curso de humanas, que tem contato com a obra de Marx, além de ser oriundo das classes populares, passei a tentar enxergar o mundo de outra forma. Atualmente a figura que mais vem me atraindo é Florestan Fernandes. Principalmente pelo caminho que trilhou, é um pensador que quero entender melhor.

Não só isso, a própria concepção organizacional da educação me chamou a atenção. A influência católica e militar, que foram exercidas na conjuntura educacional do Brasil, fez sentido em meus pensamentos. O porquê da vontade dos meus avós maternos que seu primeiro neto fosse um padre ou um militar.

Aliás, a opção ao clero quase se tornou uma realidade em um passado cada vez mais distante, na vida do infante Nevaldo, enquanto ainda aluno da E.M.A.L. Por um despertador que não funcionou, hoje estou aqui e não em Roma, como era desejo da minha avó. A Academia está me ajudando a pensar o mundo. Não por menos estou deixando de acreditar em acasos. Esse desejo latente de ambos (meus avós) é uma construção histórica, muito ligada à nossa própria história enquanto nação.

Acredito que apesar do grande salto que dei, ainda estou muito imaturo academicamente falando. Sinto como se ainda não fosse o suficiente. Mesmo com maior independência intelectual, ainda estou ligado aos conhecimentos dos professores. A faculdade ainda é um turbilhão de ideias, de coisas novas e assim acredito que será enquanto eu percorrer esse caminho. Algumas coisas ainda não são claras, ainda há resquícios do medo de tomar uma posição acadêmica própria. Mas acredito que a solução para isso estar em me debruçar sobre os estudos e tentar compreender mais. Compreender o curso, a minha posição nele e na sociedade onde devo atuar.

Futuro
Já seguindo para o fim do texto, fazer uma projeção para o futuro é uma tarefa ingrata. Cheguei até dado momento meio que tropeçando. De certo que tenho em minha mente é prosseguir até onde for possível em minha carreira acadêmica. Ser professor, óbvio, porém o nível ainda me causa certa dúvida. Sinto não ter capacidade para lecionar na Educação Infantil. Penso em tentar fazer carreira como professor universitário. A pesquisa é um aspecto em específico que me atrai. Estou tentando me apropriar de um viés mais antropológico, além de atualmente passar a ver os preceitos sociológicos de outro modo.

Porém, antes de chegar ao meu "objetivo final", a docência universitária, ainda falta decidir o que fazer depois que concluir o curso de Pedagogia. Curso outra graduação? A faculdade de Letras me fascina, a Língua Portuguesa em si é apaixonante. Ou deveria procurar uma pós-graduação lato sensu? Uma especialização viria a ajudar a repensar os rumos da minha carreira em si. E a dúvida final é se me aventuro em meio a uma pós-graduação strictu senso, me debruçando imediatamente sobre a pesquisa científica.

De certo eu não sei o que serei amanhã. Hoje ainda tento construir o que sou. A única "certeza" é constatar o que fui e como estou mudando constantemente devido à (forte) influência da Academia. Parafraseando Raul Seixas, eu seria uma enorme metamorfose ambulante. A cada período venho a construir um ideário novo. Cada disciplina estudada me ajuda a pensar, anexar certo tipo de conhecimento ou descartar outro.

Essa "sede de saber" que criei acaba tendo um efeito duplo. Ao mesmo tempo em que me preenche, me faz refletir sobre o tipo de formação ao qual estou me expondo. Serei um mero teórico da educação, embevecido em literaturas e teorias? Ou terei a competência de articular teoria e prática em uma práxis verdadeira e plena? São essas algumas das questões que em dados momentos me pegam de surpresa devido à naturalidade que surgem em meus pensamentos. De certo nesse momento, sei apenas que ainda há muito que percorrer.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Idas e vindas

Por Martha C. do Nascimento Almeida


Aos cinco anos minha mãe me matriculou em uma escolinha, de nome “Escolinha Marinheiro Popeye”. Hoje, ela não existe mais. Lembro que eu era muito agarrada com minha mãe e não conseguia ficar sozinha na escola, com a professora e os alunos. Minha mãe tinha que ficar na porta me esperando, senão eu abria um berreiro. Teve um dia que ela me levou para escola e disse que ía ficar na porta. Da minha sala não dava para ver a porta, só a janela.

Minha mãe costumava usar um coque. Quando ela foi embora vi sua cabeça ao passar perto da janela, e a reconheci pelo penteado. Falei para professora que minha mãe tinha partido e comecei a chorar. Não consegui estudar. Chorava o tempo todo querendo minha mãe. Fiz tanta birra que a professora teve que me levar para casa. Eu não ficava sozinha na escola. Minha irmã tinha que ficar comigo. Só assim, que eu ficava.

Fiquei alguns dias. Não lembro quantas semanas foram. Eu não conseguia me adaptar sozinha e nem ficar sem minha mãe e irmã. Então, minha mãe me tirou da escola.

Quando completei seis anos, minha mãe me matriculou no colégio CEAV, que na época era CEAB. Nesse colégio não fiz birra e fiquei sem minha mãe. Não sei como eu consegui ficar sozinha sem ela. Primeiro eu tinha que fazer o jardim de infância. Como não teve vaga, entrei direto no CA. Estudei nesse colégio até terminar meus estudos. Minha mãe não sabia ler nem escrever. Não teve oportunidade para estudar. Por isso, não podia me ajudar nas tarefas de casa. Meu pai estudou pouco; teve que trabalhar cedo.

Minha irmã que me ensinava. Quando ela casou, foi morar em outra cidade. Acho que naquela época eu deveria ter uns 10 anos, não me recordo muito bem. Como minha mãe não sabia me ensinar fui aprendendo a me virar sozinha. O que eu não conseguia fazer das tarefas levava para a escola em branco, copiava das colegas ou do quadro que a professora corrigia. Eu estudava para as provas sozinha. Às vezes nem estudava, ficava com preguiça, chutava as respostas, colava do caderno que eu deixava aberto em baixo da carteira. Minha mãe foi meu incentivo. Mesmo não sabendo ler, ela incentivava os filhos a estudar.

Quando eu comecei a fazer a 8ª série, eu podia escolher uma das disciplinas que o colégio disponibilizava. Os alunos do colégio CEAV tinham a opção de escolher a disciplina que queria fazer; era contabilidade, formação de professora e formação geral. O diretor deixava uma lista nas turmas da 8ª série, onde era anotado o nome dos alunos e a disciplina que cada aluno queria cursar.

Quem vinha de outro colégio para conseguir vaga tinha que fazer prova, parecido como prova de vestibular para entrar na faculdade. Na época só o CEAV tinha as disciplinas de Contabilidade e Formação de Professores. Os outros ofereciam só Formação Geral.

Escolhi Formação de Professores. Na minha infância eu dizia que ia dar aulas quando crescesse. Eu gostava de brincar de professora com as coleguinhas e com minhas bonecas. Eu ficava vendo minha cunhada, que lecionava, fazendo plano de aula, enfeitando cadernos com desenhos e corrigindo provas. Eu achava tudo muito interessante.

Quando chegou meu momento de curtir tudo que eu achava interessante, começaram as dúvidas e, especialmente, o medo. Algumas colegas que faziam Formação de Professores na época ficavam reclamando das crianças, quando faziam estágios realizados no próprio colégio. Elas falavam que alguns alunos xingavam, cuspiam. Diante desses relatos, fui ficando desanimada e deixando-me levar pela dúvida, pelas reclamações que ouvia. Eu não sabia o que queria. Achava que não teria paciência, que não iria conseguir conviver com situações semelhantes. Lembro-me dessas reclamações até hoje.

Minha amiga, que sentava junto comigo, ficava me incentivando a fazer Contabilidade. Falava das vantagens de se trabalhar num banco. Até o ano de 1996, com curso de Contabilidade conseguia-se fácil emprego no setor bancário. Ela conseguiu fazer minha cabeça e decidi mudar de curso. Mas não dava para fazer a mudança automaticamente. Era final de ano. A única opção seria encontrar outra pessoa para troca. Por sorte, consegui. Fomos à direção, que aceitou as mudanças.

Em 1994, iniciei o novo curso. A amiga, que me incentivou, repetiu a 8ª série e nos separamos. No final do mesmo ano, fiquei grávida. Continuei meus estudos até completar os três anos de Contabilidade. Nesse mesmo ano, no qual eu fazia o 1º ano do 2º grau, teve um sorteio para um estágio no banco que ficava dentro do Estaleiro Verolme - e meu nome foi contemplado. Só que tive que recusar porque estava grávida. Eles não aceitavam pessoas nesse estado.

No ano seguinte tive meu filho e em 1996 terminei meus estudos. Não consegui fazer faculdade. Estava sem condições financeiras e não tínhamos opção na cidade. Com um bebê no colo, tive que adiar planos e sonhos para cuidar do filho e do marido. Em 1999, quando fez quatro anos, o coloquei na escolinha e comecei trabalhar num shopping. Fiquei só dois meses. Com o curso de Informática que eu estava fazendo, consegui um emprego melhor, na área administrativa de uma empresa. Fiquei por lá oito anos.

Em 2004, aproveitei que estava trabalhando e fiz um curso técnico de Administração. Esse curso me abriu novos horizontes. Em 2008, saí da empresa que trabalhava para ir em busca de novos caminhos. Sentia vontade de voltar a estudar e o que vinha na minha mente era fazer Formação de Professores. Parecia que era uma peça do quebra-cabeça da minha vida que faltava. E que ficou perdida no passado. Fiquei sabendo do vestibular para Pedagogia, na UFF de Angra dos Reis, e não pensei duas vezes.

Nunca é tarde para resgatar o que ficou adiado; talvez por falta de uma orientação melhor ou por falta de informação mesmo. Com os conhecimentos que tenho hoje, com o que aprendi e aprendo a cada dia nessa faculdade, sei que posso alcançar meus ideais, resgatar sonhos e projetos. E, assim, contribuir com o meu aprendizado para uma educação melhor, cumprindo meu papel na sociedade.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

E já tenho planos...

Por Cátia Lima do Carmo Rosa


Entrei na escola como a maior parte das crianças, fazendo o jardim da infância. Aos sete anos iniciei a 1ª série e fiz todo o meu ensino primário e ginasial em duas escolas públicas distintas. Vale salientar que, na época em que estudei, os professores eram respeitados pelos alunos, ensinavam com prazer e pouco faltavam.

Me lembro da minha professora de matemática da 5ª, 6ª e 7ª séries. A vontade que ela tinha de ensinar a turma e fazia de tudo para que todos aprendessem. Inclusive hoje comento com meu filho que se eu sei bastante coisa de matemática, foi com ela que aprendi. No 2º grau (atual Ensino Médio), ingressei no curso de Formação de Professores. Pela primeira vez na vida acabei repetindo.

Não sei se foi por imaturidade ou desinteresse pelo curso, que não me estimulou nem um pouco. Tanto que, no ano seguinte, entrei para uma escola particular (Colégio Objetivo) e cursei os três anos do “científico”, como era chamado. Após o término do mesmo, iniciei minhas tentativas para passar no vestibular. Primeiro optei por Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, que achava que tinha a ver comigo. Não passei (nesta época morava em Angra e só ia para o Rio fazer as provas).

Tentei mais uma vez, agora para Educação Física, na UFRRJ. Acabei passando em 19º lugar, mas só foram distribuídas dezessete vagas. Aguardei a reclassificação, mas ela não ocorreu. Confesso que desanimei um pouco, pois achava que sempre aconteciam desistências. Era só ficar na espera. Ouvi comentários de amigos dizendo que lá na “Rural” existia uma “lei”, chamada “Lei do boi ou gado”, em que os filhos de fazendeiros daquela área compravam vagas para seus filhos. Confesso que acreditei nesta história.  

Mais tarde, me mudei para o Rio e iniciei o curso de pré-vestibular no Colégio Bahiense. E de novo eu estava na tentativa de passar no vestibular. Desta vez me inscrevi para Serviço Social na UFF. Mais uma vez, não consegui nada. Como a idade foi chegando, junto com a necessidade de trabalhar (e já um pouco desestimulada), não tentei mais vestibular.

Passaram-se mais ou menos 18 anos e surgiu uma nova oportunidade. Um vestibular extraordinário da UFF, em Angra dos Reis. E quem chamou minha atenção foi minha irmã, que gosta muito de estudar. Ela tem mais ou menos uns 26 anos de trabalho na área da educação e me incentivou insistindo demais para que eu fizesse a inscrição, para tentar o curso de Pedagogia que tinha a vantagem de ser uma universidade federal e perto da minha casa.

O que posso dizer é que passei em 39º lugar de 60 vagas - nada mal para quem já havia terminado o antigo 2º Grau há anos. E já estou cursando o 3º período. Não vou afirmar que é a “glória”, que estou cursando o que eu quero. Estou ainda aprendendo a gostar deste curso, que tem me feito mudar bastante. Como? Tendo uma visão de futuro melhor, criando expectativas para mim e minha família. Tenho aprendido cada dia mais, crescendo, me vendo como pessoa que pode ir além das tantas coisas que planejei.

Espero que este curso me faça uma pessoa melhor, com perspectivas de incentivar nossas futuras crianças a continuarem sonhando com uma sociedade mais justa, na qual elas se sintam estimuladas a respeitar o espaço uma das outras. Que possa, assim, trabalhar a paz, o amor e a solidariedade. E já tenho um plano para o após: ao terminar este curso, quero fazer uma Pós-Graduação em Psicologia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Educação: a minha trajetória

Cícera em evento educacional (Arquivo Pessoal)


Por Cícera Samara

A minha trajetória educacional não foi de primeira qualidade. Isso, claro, comparado ao que vejo ao meu redor. O colégio em que iniciei meus estduos era humilde, mas foi o que meu deu base para estar aqui. Por ser uma escola pequena, em uma comunidade também pequena, tínhamos - eu e meus colegas - uma forte integração. O corpo docente, por sua vez, elaborava muitos projetos, que estimulavam a participação da comundiade na vida escolar de todos os alunos.

Pena que só tinha até a 4ª Série!

Quando ingressei no então "Ginásio", na antiga 5ª Série, tive que estudar numa escola de outro bairro. Não era muito distante, mas tinha que pegar ônibus. Esses anos de formação também foram cruciais para o desenvolvimento da minha personalidade, especialmente para passar acreditar nas outras pessoas, estabelecer amizades e entender melhor as relações humanas. Até hoje encontro com professores dessa época. Mantemos contato para relembrar os bons momentos. E a preocupação com o outro permanece.

Depois, no Ensino Médio, fui cursar a chamada "Escola Normal". Agora, mais distante, num outro colégio no centro da cidade. Me senti perdida. Nunca havia visto uma escola daquele tamanho. Na verdade, nem imaginava que algo assim poderia existir. Fiquei totalmente confusa. Não sabia o que queria. Fui matriculada nesse curso por minha mãe, que não me perguntou se era isso que eu desejava. Ela só imaginava que, concluído os estudos, sairiam com uma profissão.
No começo, resisti. Faltava muito. Ía para a praça, pegava o ônibus de novo e voltava para casa. Às vezes inventava faltas dos professores, ou que não tinha água, entre outras estórias. Mas, de certa forma, Deus está de prova, eu não estava inventando muito. A direção e coordenação da escola, que quase ninguém conhecia, deixavam muito a desejar. Não tinha professores para todas as matérias. Especialmente de Química e Física. Um dos únicos "agentes" educacionais era, na verdade, o zelador, amigo de toda hora.

Exceptuando ele, pude contar com cinco grandes professoras que fizeram parte desta minha trajetória. Elas, sim, fizeram-me gostar dessa área - a Educação - e acreditar que eu posso fazer algo para os educandos que irão passar em minha vida, como professora ou pedagoga.

Esse foi o caminho que percorri e que me fez escolher o curso de Pedagogia, profissão na qual pretende me realizar como pessoa e educadora.

Nos tempos de infância (Arquivo Pessoal)